a vida depois da morte
Faz 1 mês que ela morreu.
Tenho pensado que na relação com as plantas e os animais criamos as raízes que amparam o desassossego da infinita diversidade que há em nós.
Sinto o comboio da minha vida a abrandar a pouco e pouco. Como se o destino importasse cada vez menos.
Este desapego que ora me assusta, ora me sustenta, faz sempre mais parte da experiência material daquilo que sou, onde o próprio corpo se dissolve nos milhares de milhões de partes pequenas de si. É quase como dizer que já estou morta ainda que agora respire. Ou que estarei sempre viva, mesmo quando o meu coração já não bater e os milhares de milhões de partes de mim já não forem mais eu.
Quem sou eu quando este corpo que já existia antes de mim é a criação natural onde me sinto real a cada sopro, a cada sensação?
Quem sou eu afinal, que me sinto mais eu agora que o mistério é a casa onde habito?
Perdi o medo de ver o tempo a passar. Não há forma de errar quando no meu interior o melhor lugar para estar é o de não saber o que fazer.
Convido o sonho, que me traga memórias doces de histórias que não existiram, onde tu nunca partiste.
Vejo ao de longe este corpo, vivo em dor e saudade, desmembrar-se da ideia de mim.