ser em duas mãos

Afinal quem sou eu?

Vocês que já me viram, digam-me! Quem sou eu? Tu aí… ou tu! Vocês, digam-me!

Afaguem-me o Ego com palavras doces, ou rasguem-no com a surpresa de um elogio. Inebriem-me numa dança de cheiros e calor…

Mas para quê? Sabe sempre a pouco…

Diz-me lá quem sou! Deixa este Ego brilhar e ser importante. Deixa-o estar assim, maravilhado na ilusão do que não é capaz de crer…

Sem ele não sou inteira. Sem ele não estava viva.

Anos a derrubar muros internos para agora compreender que abdicar dele é abdicar deste corpo. Com todas as suas cicatrizes orgânicas e circuitos viciados.

Quem sou eu quando anseio mergulhar nas profundezas dos oceanos e ser estrelas de outras galáxias. Mas não saio do meu castelo… este castelo torto de areia.

Quem sou eu quando os meus olhos gritam por amor, afeto e o meu peito treme enquanto segura com força a certeza da grandeza daquilo que sou. Movimento…

Quem sou eu quando sei que somos um, perdidos, unidos e uma parte de mim ainda congela num quarto de precianas corridas.

Que ganas são estas que me trouxeram à vida, que me protegem do colapso e não encontram depois espaço para criar, para ser e amar.

Ser movimento ou ser a vida a duas dimensões, onde os sonhos são mais reais que o próprio ar, onde um ego temeroso é tudo o que sei ser. Que estou eu a dizer…

Querem saber quem sou eu?

Aqui me apresento. Numa mão carrego o meu Ego e na outra o Universo.

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