living the body - holding the tension of the opposites

[PT mais a baixo]

Every time I publish something new, I experience the journey of my wounded ego, between expectation and disappointment. Now I know that this old involuntary mechanism doesn't vanish just by receiving “likes” or being praised. Precisely, compliments don't necessarily mean connection. Much less the connection I've been missing the most - with myself.

I try to bring to my conscious mind, the present awareness of my internal transformation, which is annoyingly happening at a very lower pace than my mind usually expects, and I try to maintain myself safe in the place of an observer. Very graphically, a gigantic wave of demotivation and fatigue floods my entire system, temporarily submerging my dreams, and the beliefs I invested so much to transform.

I feel myself withdrawing. As if paying attention to what's going on outside, giving myself to others, is too much for the energy I spare. I feel triggered by the smallest things and my mind is in a state of contained anger. Maybe also my body. The desire to numb is intense, the urge not to feel.

I find myself experiencing the “tension of opposites”! On one side there's the almost unbearable excitement in my nervous system, the force that wants to grab life at all costs, that pushes me forward, that has been held back for so many years, conditioned by judgment and lost in the fear of rejection. On the other, there's the delusional relief from numbness I know so well, the torpor that eases the pain of the internal struggle but completely deprives me of strength and action.

It's like being in a limbo where reality seems far away but I can still walk. As I write, I feel my insides twitching, like there's a sharp threat pointed at me.

I take a deep breath but I realize it's not that easy. It takes effort to breathe in some air, and then it shoves out in jerks as if my rib cage is rusted. As if the air is going to fail me at any moment and I need to keep it inside.

My chest barely moves and yet, I realize I'm alive.

When I pay close attention to this feeling of tightness, I get the impression that it moves, like living branches of a tree wrapping around my neck but from the inside, becoming more present around my throat. The air runs free, but the voice… the voice feels trapped.

I catch my mind looking for explanations and coming up with more or less rational or emotional hypotheses that could explain this phenomenon, but I'm too tired to entertain those thoughts. They eventually disappear as I just watch what happens for the rest of my body. An electrical current that I hadn't noticed yet is filling down my arms, particularly my left arm, and my fingertips are cold. Small impulses shake my torso or just my head, which involuntarily makes funny micro-swings, now not so strange since my body started to become a safer place.

A new impulse tightens my diaphragm and a wave of air inflates my lungs, pleasantly stretching the muscles around them. I exhale more fluidly and I finally find some quietness in that internal state of pause.

Unintentionally, I start to gather information from what's happening around me. I pay attention to the silence inside the house, occasionally interrupted by the animal noises that Rusca makes with her mouth, the chirping of a bird outside, and the sound of an airplane in the distance. I open my eyes and contemplate the brightness of the room, changing as clouds pass by.

I adjust my position and yawn, feeling a slight urge to lay down and take a nap. But the guilt won't let me. Maybe reading a book. Maybe singing and releasing the voice that's holding my suffocation.

I wish I could use my voice with the same compassion that I welcome my inner self.

I'm still holding the tension. I will not explode, and I will not fall asleep. I keep walking.

 

 

viver o corpo - sustentar a tensão dos opostos

Cada vez que faço uma publicação nova experiencio a viagem em que o meu ego ferido embarca, entre a expetativa e o desaponto. Agora sei que este mecanismo automático e bem velhinho não desaparece com “likes” ou com elogios. Justamente, elogios não são sinónimo de conexão. Muito menos a conexão que mais falta me tem feito - comigo mesma.

Tento trazer para o momento presente a consciência da minha transformação interna, que acontece a um ritmo bem diferente daquele a que fui habituada e tento manter-me segura no lugar de expectadora, enquanto uma onda gigante de desmotivação e cansaço me inunda, submergindo temporariamente os meus sonhos, as minhas crenças que tenho investido tanto para transformar.

Sinto vontade de me recolher, como se prestar atenção ao que se passa cá fora, aos outros, fosse demasiado para as reservas de energia que ainda conservo. Sinto-me ativada com as mais pequenas coisas e a mente numa espécie de fúria contida. É intenso o desejo de me anestesiar, de não sentir.

Dou por mim a experienciar a “tensão dos opostos”! A excitação quase insuportável no meu sistema nervoso, a força que quer agarrar a vida a todo o custo, que avança, que existe contida há tantos anos, condicionada pelo julgamento e perdida no medo da rejeição. E o alívio ilusório da dormência que tão bem conheço, o torpor que me acalma a dor da luta interna mas que me priva totalmente de poder e ação.

É como estar num limbo, onde a realidade é distante mas ainda me é possível caminhar. Enquanto escrevo sinto as entranhas contraídas, como se existisse à minha frente uma ameaça pontiaguda apontada a mim.

Respiro fundo mas percebo que não é fácil. O ar custa a entrar e sai aos solavancos, como se a minha caixa torácica estivesse enferrujada, como se o ar me fosse faltar a qualquer momento e o quisesse guardar cá dentro. O meu peito mal se mexe e ainda assim percebo que estou viva.

Se presto muita atenção a esta sensação de aperto tenho a impressão de que ela se move, como os ramos vivos de uma arvore a envolver-me o pescoço por dentro, ficando mais presente em torno da garganta. O ar corre livre, mas a voz… a voz parece presa.

Reparo na mente a procurar explicações e a lançar hipóteses mais ou menos racionais, mais ou menos emocionais, para explicar aquele fenómeno mas estou demasiado cansada para alimentar esses pensamentos e eles acabam por se desvanecer enquanto fico só a a observar o que acontece no resto do meu corpo. Uma corrente elétrica que ainda não tinha notado preenche-me os braços, em particular o esquerdo e sinto as pontas dos dedos frias. Pequenos impulsos agitam-me o tronco ou apenas a cabeça, que se move em micro-balanços involuntários, agora já não tão estranhos desde que o meu corpo começou a transformar-se num lugar mais seguro.

Um novo impulso contrai-me o diafragma e uma onda de ar insufla-me os pulmões, estendendo prazerosamente os músculos em torno. Expiro com maior fluidez e encontro alguma tranquilidade naquele estado de pausa interna.

Sem intenção, começo a recolher informações do que se passa em meu redor. Presto atenção ao silêncio que se faz sentir dentro de casa, por vezes interrompido pelos sons que a Rusca faz com a boca, o chilrear de um pássaro lá fora e um avião que se ouve ao longe. Abro os olhos e observo a luminosidade da sala que muda ao mesmo tempo que as nuvens passam.

Ajusto a minha posição e bocejo. Sinto um leve desejo de me encostar e fazer uma sesta. Mas a culpa não me deixa. Talvez ler um livro. Talvez cantar e soltar a voz que prende o meu sufoco. Gostava de usar a voz com a mesma compaixão que acolho o meu interior.

Ainda estou a sustentar a tensão. Não vou explodir e não vou adormecer. Continuo a caminhar.

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